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"Do riso fez-se o pranto": discursos sobre o magistério

Acadêmica: Daniela Rosolen Galetti da Silva

Orientadora: Maria Lucia Boarini

Ano: 2015

Resumo: A partir de uma pesquisa de campo, buscamos entender como o professor tem pensado o magistério e qual a sua concepção sobre seu trabalho, pois nos diferentes meios de comunicação se fazem cada vez mais frequentes notícias que alertam para problemas enfrentados por professores no cotidiano das escolas de todo o Brasil, como violência em sala de aula, condições precárias de trabalho e afastamento por problemas de saúde em decorrência da profissão. A teoria marxista nos guiou no entendimento da categoria trabalho, que, enquanto trabalho em geral, é fundante da sociabilidade humana e manifestação da vida do trabalhador, mas na sociedade capitalista assume também a forma de trabalho alienado. Para pensar os discursos coletados, buscamos entender quais as condições sociais e materiais que estiveram e estão presentes no desenvolvimento da profissão docente desde a sua ampliação no final do século XIX e início do século XX. Para isso, recorremos a fontes primárias e/ou a autores que se debruçaram sobre elas. Identificamos que o crescimento da profissão docente se deu concomitantemente à universalização do ensino, com a criação de escolas públicas na França. Nessa época a manutenção da ordem tornava-se, cada vez mais, uma necessidade na sociedade burguesa, pois valores pregados pelo liberalismo como igualdade, justiça e amor ao trabalho, já não podiam ser defendidos pela razão nem concretizados na prática produtiva, ficando a cargo daquelas instituições a manutenção desses princípios através da sensibilização e do apelo à moral. Assim a escola vem com o objetivo de disciplinar as pessoas para viverem nessa organização social, e o trabalho docente, historicamente, nasceu a partir das necessidades da organização social no sistema capitalista. No Brasil, percebemos que o desenvolvimento da profissão docente deu-se paralelamente ao incentivo à educação feminina e à aceitação da profissionalização da mulher, medidas que respondiam à necessidade de modernização do País, principalmente após a proclamação da República. A recuperação desses elementos históricos nos serviu de base para a análise das entrevistas realizadas com dez professoras dos anos inicias do Ensino Fundamental da rede pública de ensino do município de Campo Mourão, Paraná, no período de fevereiro de 2014. Entendemos que, apesar de encontrarmos discursos diferentes sobre a profissão docente, sobretudo no início do século XX e na atualidade, nos dois momentos o magistério esteve ligado à reprodução social, atendendo às necessidades do capital, o que o configura uma prática alienante. Se hoje o trabalho das professoras parece precário ao ponto de causar sofrimento, é porque as dificuldades narradas por elas em relação às condições de trabalho são a expressão de um acirramento, nas últimas décadas, da crise estrutural que o capitalismo vem enfrentando, a qual rebate não apenas na profissão docente, mas em todas as instituições criadas por esta organização social.

 

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